Carta aberta a Sua Exa. Dr. José Mário Vaz, Presidente da República da
Guiné-Bissau
Exa. Sr. Presidente,
O momento não é para felicitações ou reprovações, mas sim, para aceitação
do realismo da necessidade duma decisão, a sua decisão, legitimada, por
direito, segundo a Constituição da República, face à insustentável crise
política que, ao longo de meses e perante registos de manifestações práticas de
boa-vontade, de guineenses, amigos da Guiné-Bissau, organismos e parceiros
internacionais, visando soluções consensuais e sustentáveis para a solução da
crise, não redundaram em entendimentos, em consensos e na viabilização do
admissível e desejado enquanto programa e agenda de estabilidade política e
governativa para a Guiné-Bissau.
Exa. Sr. Presidente da República,
Vossa decisão manifestada através do decreto-presidencial nº 1/2016 de
12.05.2016 ainda que não tenha sido explícita no discurso à Nação que antecedeu
esse decreto, criando espaços para interpretações segundo o entendimento ou
interesse de cada um, não deixa de merecer consideração, porquanto ser
legítima, ao abrigo da Constituição da República e face aos argumentos
apresentados.
A Guiné-Bissau, Sr. Presidente, precisa de Estabilidade Política e
Governativa.
Precisa de COMPROMISSOS e CONSENSOS de todos, entre o político, o social,
o judicial e o militar, tendo em conta, as particularidades do nosso Estado e
não, propriamente, a definição e a incidência, teóricas, do conceito abrangente
e da multidisciplinaridade do Estado de Direito e Democrático, segundo os
conceitos/padrões académicos.
Precisa de Seriedade e Harmonia, entre todos, para que a Confiança seja
resgatada, num país em que todos desconfiam até da própria sombra.
Sem questionar a legitimidade da sua decisão, Sr. Presidente, gostaria,
mui humildemente, de lhe aconselhar a rever o percurso dos 2 anos de 3 que
ainda lhe restam de mandato, a fim de repensar o seu percurso de aprendizagem,
entre o que de bom conseguiu fazer e o que de negativo deixou registado.
A aprendizagem ao longo da vida, não se esgota com nenhuma formação
académica; esgota-se com a morte, destino final de todos os humanos, por isso,
Sr. Presidente, faça os possíveis para continuar a aprender ao longo da vida.
Ninguém estuda para ser Presidente da República, não há nenhuma
disciplina curricular, em nenhuma universidade do mundo, para candidatos a
Presidente da República.
Não tenha, não sinta complexos, se alguém achar que não está preparado
para o exercício do seu cargo.
Faça tudo para perceber o porquê de uns e outros acharem que não está
preparado para o exercício do cargo e prepare-se afincadamente para merecer a
confiança do seu povo!
Ganha o Sr. Presidente, ganha a nossa Guiné-Bissau, ganha o nosso Povo!
Independentemente da sua formação académica, um Presidente da República
deve preocupar-se com a aprendizagem ao longo da vida, na vertente de
relacionamento humano.
A Política pressupõe entre todas as teorias e retóricas, servir o Estado
e o Povo, ou não terá relação com o conceito de Democracia e de Estado.
Fui e continuarei a ser seu crítico, sempre que em meu entender não
estiver a cumprir com o seu juramento constitucional para com o Estado e o
Povo; para com a Constituição e as Leis da República.
Porém, como já manifestei algumas vezes, face à crise política guineense,
tenho notado melhorias no seu percurso de aprendizagem, sim, aprende-se a ser
Presidente da República e espero continuar a dar-lhe o benefício da dúvida, em
nome da Guiné-Bissau, sem passar-lhe um "cheque em branco" que lhe
motive a aprendizagens de atitudes e comportamentos ditatoriais que fizeram
escola na Guiné-Bissau.
Do seu passado, escrevi no passado. Estamos no presente e sem me esquecer
desse passado, não posso sustentar o seu passado para sustentar posicionamentos
dum percurso distinto no cargo para o qual foi eleito pela maioria do nosso
povo em 2014 como Presidente da República.
Espero que da sua decisão, de mais uma demissão de Governo, haja uma luz
capaz de projectar, iluminar, um novo rumo para a Guiné-Bissau, sob pena de,
Sr. Presidente, suas decisões deixarem de ter crédito, quiçá, de merecer a
confiança, não só do Povo Guineense, mas igualmente, dos Parceiros da
Guiné-Bissau.
Não se pronunciou sobre o Governo que substituirá o demitido por decreto,
mas importa que o faça urgentemente, para evitar espaços vazios entre a
demissão do governo e a indigitação do novo Primeiro-ministro e,
consequentemente, a formação do novo Governo.
Exa. Sr. Presidente da República,
Das reivindicações e sustentações duns e doutros, numa abordagem de
conflitos institucionais entre os órgãos de soberania, importa que retenha o
positivo e o negativo da coabitação falhada que desencadeou a crise que
paralisou a Guiné-Bissau de 2015 aos dias de hoje, quando a expectativa era de
mudança e de esperança num futuro melhor para a Guiné-Bissau e para todos os
Guineenses.
O Sr. Presidente da República sabe e deverá concordar comigo, que também
se inclui no todo dos problemas que originaram a crise a que ainda assistimos e
deveremos continuar a assistir se nada for feito para que tenha fim, através do
diálogo político, de consensos à volta do interesse nacional e da promoção da
harmonização social.
Por isso, peço-lhe que continue a melhorar a sua aprendizagem ao longo da
vida, particularmente, no que tange ao exercício do cargo de Presidente da
República, com humildade e tendo a manifestação do povo como matéria diária de
aprendizagem no exercício de servir esse mesmo povo.
Espero que decida pela definição urgente de que governo será formado, e
que promova uma nova ronda negocial multidisciplinar para harmonizar um novo
ambiente capaz de desbloquear o funcionamento da Assembleia Nacional Popular.
Creia-me, Sr. Presidente da República que a maioria dos guineenses, não
lhe dará mais 3 anos de aprendizagem e benefício da dúvida, ou seja, doravante,
não pode desperdiçar mais nenhum dia do exercício do seu cargo em proveito que
não da satisfação do colectivo.
Positiva e construtivamente.
Didinho 12.05.2016
Didinho 12.05.2016
Gostei da tua opinião Senhor Fernando Casimiro. Todos nós podemos criticar,críticas construtivas sem ofensas... A tua carta diz tudo... Many thanks
ResponderEliminarGostei da tua opinião Senhor Fernando Casimiro. Todos nós podemos criticar,críticas construtivas sem ofensas... A tua carta diz tudo... Many thanks
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