Nenhum
povo do mundo se viu confrontado com uma factura tão pesada, como esta que o
povo guineense está a pagar pela sua “libertação”. Há quarenta e seis
anos que o nosso povo está a braços com uma dívida de onze anos de luta, que
parece interminável, ameaçando agravar-se no tempo, com o passar das gerações –
os avôs receberam, os pais receberam, os filhos receberam e agora são
uns desgraçados oportunistas disfarçados de militantes do PAIGC que também
reclamam uma vida de luxo à custa do sacrifício de um povo que finalmente tomou
consciência de que a verdadeira libertação ainda está para acontecer e que
consiste numa infindável luta do dia-a-dia contra todos os factores do
aviltamento da consciência social e moral do homem, numa busca permanente pela
afirmação e consolidação do primado da Lei, da disciplina e da organização
social, enquanto factores que potenciam a paz, a unidade nacional e o
desenvolvimento socioeconómico.
Esta
visão popular propiciou fundamentos para uma mudança radical nas relações entre
o PAIGC e a maioria esmagadora de um povo que reclamava por novos valores,
novas atitudes e novos conceitos de gestão e de liderança política, conformados
com as profundas mudanças que se registavam no Mundo, obrigando à uma “abertura
política do faz de conta”, que pretendia manter tudo na mesma e que nesse
fatídico dia 7 de Junho de 1998 teve como consequência o extremar de posições
entre um PAIGC agonizante e uma oposição mal organizada e carente de
experiência para lidar com as complexidades de um sistema corrupto, criminoso
baseado na intriga e no nepotismo.
O
conflito armado de 7 de Junho de 1998 exemplifica o fracasso da implementação
democrática na Guiné-Bissau, alertando para as fragilidades das Instituições e
a vulnerabilidade do sistema político, devido as discrepâncias constantes nas
principais Leis e Normas que regulam as relações institucionais e
sociopolíticas no País.
Entretanto,
nada foi feito. As reformas têm sido permanentemente adiadas e o País foi
cambaleando e registando índices perturbadores, mas que entretanto nunca
perturbou a classe política, habituada a viver das esmolas da Comunidade
Internacional.
A
Guiné-Bissau caminhava de mal à pior, mas nada comparado com a actual situação
emergida do VIII Congresso do PAIGC, realizado em 2014, em Cacheu e que elegeu
a actual Direcção deste Partido.
Mantendo
a actual liderança e considerando as relações internamente estabelecidas, assim
como a correlação de forças existentes na sociedade, o Presidente do PAIGC
corre o risco de permanecer à margem do Poder, uma vez que a sua forma de estar
na política contraria a essência, a nobreza e os valores que sustentam o
exercício político (a tolerância, o diálogo, a humildade e o respeito mútuo).
Seria injusto negar-lhe competência, esforço e dedicação, qualidades que,
embora se revestem de enorme importância, acabam por não ser suficientes para
definir um bom líder e uma boa liderança. Por outras palavras, a sua catastrófica
tendência de morrer na praia (despender um esforço titânico para conquistar
o Poder, para logo depois deixá-lo escapar), demostram que as suas qualidades
humanas (conflituoso, rancoroso, arrogante, agressivo, violento e
intolerante), não lhe auguram faculdades de liderança, se considerarmos que
apesar de tudo, liderar é uma arte:
a.
A
arte de gerir recursos humanos;
b. A arte de convergir esforços na promoção
da eficácia e da eficiência;
c. A arte de conviver com o que discordamos;
d. A arte de encontrar nas opiniões
contrárias uma importante fonte de vitalidade;
e. A arte de servir e de eticamente se
considerar um devedor da sociedade;
f. A arte de desfrutar dos privilégios
especiais da complexidade, da ambiguidade e da diversidade;
g. Ser líder significa especialmente ter a
oportunidade de introduzir uma diferença expressiva nas vidas daqueles
acreditam na nossa liderança.
Recorrendo
à uma análise paciente do percurso político do Presidente do PAIGC, vamos
constatar que a sua luta pela conquista do Poder, não se resume às prementes
necessidades do seu exercício democrático em prol das massas. Mas sim, para ser
utilizado como arma de arremesso na resolução de diferendos de caracter pessoal
(para humilhar, perseguir, denigrir a imagem dos adversários e subjugar os
militantes do seu próprio Partido, etc.).
Em
2014, o PAIGC venceu as eleições legislativas com uma maioria absoluta e por
ter formado um Governo “inclusivo” com todos os Partidos representados na ANP,
acabou por granjear o apoio da totalidade dos 102 Deputados da Assembleia
Nacional. Entretanto, em vez de governar o País, o Presidente do PAIGC preferiu
declarar guerra à tudo e à todos, acabando por ver o seu Partido relegado à
oposição;
Agora,
em 2019, sob o pretexto de não gostar do discurso proferido na sessão de
abertura da ANP, pelo Coordenador Nacional do MADEM – G15, a segunda maior
força política do País, o Presidente do PAIGC, numa atitude arrogante e
abusiva, recusou categoricamente a aprovação da sua candidatura ao posto de 2º
Vice-Presidente da ANP, que de acordo com o Regimento desta Instituição,
pertence ao MADEM – G15, criando outra vez um impasse institucional no País.
Entretanto,
vamos dissecar os discursos e demais atropelos que farão com que o Presidente
da República, Sua Ex.ª Dr. José Mário Vaz não empossará o Presidente do PAIGC
ao cargo de Primeiro-ministro:
1. Em sinal de protesto contra a sua
exoneração do cargo de Primeiro-ministro, o Presidente do PAIGC bloqueou a
Assembleia Nacional durante três anos, com o objectivo de inviabilizar a
legalização de qualquer Governo que não obedeça os seus interesses pessoais e
os dos seus amigos;
2.
Enquanto
Chefe do Governo, o Presidente do PAIGC ordenou a afectação de avultados
recursos financeiros do erário público, supostamente destinados ao “resgate
bancário” que na realidade nunca foi realizado e o dinheiro nunca foi
devolvido;
3.
Enquanto
Chefe do Governo mais corrupto da nossa democracia, numa atitude inédita num
Estado de Direito Democrático, o Presidente do PAIGC obstruiu a justiça,
impedindo o Ministério Público de levar à barra da justiça os membros do seu
Governo, acusados de corrupção activa e branqueamento de capitais;
4.
O
Presidente do PAIGC organiza uma Conferência de Imprensa à margem do Congresso
do PAICV, em Cabo Verde, com o propósito de insultar publicamente o Presidente
da República, acusando-o de estar envolvido no trafico internacional de drogas
e rotulando a Guiné-Bissau de Paraíso de drogas;
5.
Num
gesto irresponsável e de manifesta arrogância, o Presidente do PAIGC Bloqueou o
País durante três anos, obstruindo a implementação do Acordo de Conacri, sob o
falso pretexto de ter sido o Sr. Augusto Olivais o indicado neste acordo, para
chefiar o Governo de Unidade Nacional, que tinha como objectivo a realização
das imprescindíveis reformas nos sectores da justiça, da defesa e segurança, e
da lei eleitoral, que têm constituído um enorme entrave às relações
institucionais;
6.
Durante
todo o processo de implementação do Acordo de Lomé, o Presidente do PAIGC, num
gesto de declarado desprezo pelo Instituto Presidencial, recusava
categoricamente a participar nas reuniões de concertação com os Partidos,
convocadas pelo Presidente da República;
7.
O
Presidente do PAIGC foi sem sombra de dúvidas o promotor da crise política que
estagnou o País durante quatro anos, por ter criado, organizado e financiado
todo um sistema de informação e propaganda, na imprensa escrita e radiofónica,
especialmente dedicado à insultar e denegrir a imagem do Presidente da
República e dos demais Dirigentes políticos nacionais, que não partilham as
suas convicções;
8.
Com
a sua forma agressiva e intolerante de estar na política, semeou a divisão, o
ódio, a agressão verbal e a tortura moral e psicológica na sociedade, sobretudo
nas relações políticas e institucionais;
9.
Constituiu
e chefiou o Governo mais corrupto da história do nosso País, o Governo que
arruinou os cofres do Estado em prol do seu enriquecimento pessoal e em salvaguarda
dos interesses do seu Partido e naturalmente da consolidação do seu Poder, como
testemunha a opulência ostentada durante a campanha eleitoral, com a fretamento
de três aviões cargueiros destinados ao transporte de material para o efeito;
10.
Enquanto aguardava pela sua nomeação e
consequente empossamento ao cargo de Primeiro-ministro, era suposto que o
Presidente do PAIGC adoptasse uma postura de Estado, permitindo ao País
respirar tranquilamente. Entretanto, surpreendendo tudo e todos, quando nada o
fazia prever, optou por provocar mais um conflito desnecessário que levou a
estagnação da Assembleia Nacional e que ameaça despoletar em mais uma espiral
de confrontações institucionais e basicamente na continuidade da crise que
assola o País nos últimos quatro anos;
11.
Assistimos todos os dias à uma onda de
manifestações organizadas pelo Presidente do PAIGC contra o Presidente da
República e em que, independentemente do que pode estar em causa, o nível de
linguagem, o caracter das intervenções (insultuosas, apelando à violência e
inclusive à subversão da Ordem Constitucional por via de um Golpe de Estado),
deixam bem evidente a impossibilidade de coabitação pessoal e institucional
entre estas duas personalidades da vida política nacional.
Por
tudo isto, o Presidente da República que não é um mero defensor da Constituição
da República (aquele que deve cumpri-la intransigentemente e fazer cumpri-la),
mas sobretudo o garante da paz e da estabilidade nacional, mobilizando para o
efeito todos os meios e recursos disponíveis para combater o extremismo e a
violência em todas as suas formas de expressão, deve reconhecer no empossamento
do Presidente do PAIGC ao cargo de Primeiro-ministro, o prelúdio para uma nova
estagnação do País, com as devidas consequências.
A Guiné vai acontecer!
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