quarta-feira, 27 de abril de 2016

A GUINÉ-BISSAU – QUEM MANDA, POR QUE MANDA, COMO MANDA?

PAPA SUFRE

Prezados,
 
Sou, Papa Sufre Fernando Quadé, estudante do curso de Administração aqui no Brasil.

Antes de mais, meus sinceros cumprimentos e votos de uma boa semana.

A luz dos acontecimentos que estão marcando o país nos últimos tempo, venho junto a vocês, com a intensão de fazer chegar aos eleitores esse meu artigo de opinião enquanto cidadão guineense. 

Pelo que assumo todas as responsabilidades que possam advir.

Por isso, estou enviando em anexo o artigo de opinião, passaporte escaneado e foto. 
Agradeço desde já a vossa colaboração.
Cordialmente,

-- 
Papa Sufre
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 São Paulo - Jaú/Brasil

A Guiné-Bissau – Quem manda, Por que manda, Como manda?

Na Guiné-Bissau, tudo passa pela esfera da intimidade (aqui, até os santos são chamados no diminutivo), num impressionante descompromisso com a ideia de bem público e numa clara aversão às esferas sociais de poder.

Existem outras facetas que fazem parte de “matchu-garandi” (e da expressão) do país.

O clima de resistência à ditadura já se anunciara em shows, como opinião estreado a partir dos anos passados e que se alastrou até a data presente.

Em verdade, há os líderes natos, mas a grande maioria não o é, mas pode vir a ser algo próximo a isso, desde que encare suas responsabilidades. Um líder que só pense em si próprio está fadado ao insucesso, e nem chega a merecer a alcunha de líder, e a estrutura que comanda, fadada ao fracasso. Será traído, confrontado, e culpará a sorte, quando deveria culpar a si. Por fim, amado leitor, pergunte a si próprio qual o objetivo da sua autoridade. O que pretende dela? Poder, posição social, mulheres, vingança? Ou há algum idealismo em ti?

Está-se construindo na Guiné-Bissau “um monumento à negligência social”.

A miséria e a fome crônica na Guiné-Bissau tornaram-se temas de discussões obrigatória em todos os fóruns nacionais e internacionais, ao lado das discussões a respeito de corrupção, de reformas políticas-militares, social, econômica, educacional e entre outras. 
O ensino público rebaixado. A saúde em colapso, os presídios vazios, uma justiça lenta e ineficiente, tudo empacado, sem solução, para além do que mostrava a modernidade proclamada pelos ditos políticos durante as campanhas presidenciais e legislativas.

Na verdade, a cultura do marketing e a sociedade do espetáculo encobriram uma enorme rede de interesses particulares, em que estavam envolvidas parte significativa e/ou, maioria dos políticos e seus subalternos.

O fato é que “o país é muito atrasado”. Isso eu posso repetir quantas vezes for necessário e com muito orgulho enquanto guineense nato.

Desde o início desta curta história da independência de quarenta anos e uns quebrados e, também vinte anos e uns quebrados da democracia, já era patente, na nossa democracia uma ditadura encoberta que acaba gerando um processo difícil de construção de formas compartilhadas de poder e zelo pelo bem comum.

Escrever sobre a vida do nosso país implica questionar os episódios que formam sua trajetória no tempo que vivemos – para compreendermos os guineenses que somos e os que deveríamos ou poderíamos ter sido.

A imaginação e a multiplicidade das fontes são dois predicados importantes na composição da história. Nela, cabem os grandes tipos, os homens públicos, as celebridades; cabem igualmente personagens miúdos, quase anônimos. Em nenhum inspirou o gesto. É preciso “usar os óculos do morto – Amílcar Cabral”, para conectar o público e o privado, para penetrar num tempo que não é o nosso, abrir portas que não nos pertencem, sentir com sentimentos de outras pessoas e tentar compreender a trajetória dos protagonistas da nossa história e da nossa Nação, igualmente. 
Tudo isso porque é necessário, as visões, ouvidos e viver do povo, segundo os quais, as exigências do seu tempo e não de acordo com as exigências do nosso tempo –, tempo dos políticos. E, é, ainda, não ser indiferente à dor ou à alegria do guineense comum, invadir o espaço da intimidade de personagens relevantes e escutar o som das vozes sem fama.

O tempo presente é um pouco de cada um, e, quem sabe, cabe ao leitor anotá-lo com precisão e crítica. Eu aceito a crítica e estou aberto a ela.

A Guiné-Bissau arromba toda concepção que a gente faça dele. Longe da imagem do país pacífico e cordato, ou da alentada democracia racial e ditatorial. A Guiné-Bissau, é ao mesmo tempo, uma nação marcada por gaps sociais e índices elevados de analfabetismo. A história da Guiné-Bissau, por suposto, não cabe num único livro. Até porque o paradeiro de outras pessoas ainda há por esclarecer, mas que não se sabe até quando.

Parece não existir na Guiné-Bissau nenhum homem republico, e que nem zela, ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular.  

A Guiné-Bissau caracteriza-se por um aprofundamento das discussões e conflitos nos planos social e político-institucional. Em contrapartida, é também período de graves impasses no processo de reestruturação democrática. O país assistiu a embates político-institucionais, conflitos sociais, pactos políticos os mais díspares e, ainda surpreendentes “deslizamentos” ideológicos – de partidos e de atores políticos, sociais e culturais.

A crise político-ideológica generalizou-se.

A república ainda sofreria vários impasses e desafios, sobretudo no âmbito econômico, com a imposição de diversos planos fracassados, até a atual e relativa estabilização. Impasses institucionais, políticos, econômicos, sociais e, até, no âmbito dos costumes – corrupção generalizada e impunidade, que se prolongam até os dias atuais – sinalizaram as dificuldades a serem enfrentadas pela nova ordem republicana, não isenta de contradições e de vícios dos antigos regimes.

À percepção do povo, entretanto, escapou o fato de que o padrão histórico-cultural e político em que se vive no país nas últimas duas décadas passou a ser definido pelos valores da sociedade do espetáculo e da cultura do marketing. Na verdade, é a propaganda que comanda o jogo político, centralizado nas emissoras estatais e privadas do país e alastrando ao nível internacional, ao passo que por dentro se vive o clima de caos.

É de se esperar que o aprendizado tenha sido definitivo e que o país que estamos legando às futuras gerações – uma Guiné-Bissau que, embora ainda marcado por problemas graves e que se avolumam – pode ser colocado no patamar das pequenas nações democráticas mundiais. 
Apesar do longo caminho a percorrer para se implantar justiça social para esta sociedade – ou, quando menos, diminuir a injustiça, o que não é pouco – várias conquistas já são apreciáveis.
O saldo da consolidação dessa democracia liberal incompleta é, portanto, em quaisquer circunstâncias, positivo. Urge preservá-la a todo custo e avançar: embora a nova sociedade civil seja ainda exígua, ainda resta retirar de seu trágico destino as milhares de pessoas que mal sobrevivem abaixo da linha da miséria. Criando condições efetivas – e não paliativas – de vida para todos os guineenses.

O Legal e o Legítimo
Partimos de uma distinção necessária.
Distinguimos entre o legal e o legítimo. Toda lei é legal, obviamente. Mas nem toda lei é legítima. Sustentamos que só é legítima a lei provinda de fonte legítima.

O único outorgante de poderes legislativos é o Povo. Somente o povo tem competência para escolher seus representantes. Somente os Representantes do Povo são legisladores legítimos.

A escolha legítima dos legisladores só se pode fazer pelos processos fixados pelo Povo em sua Lei Magna, por ele também elaborada, e que é a Constituição.

Afirmamos, portanto, que há uma ordem jurídica legítima e uma ordem jurídica legal. A ordem imposta, vinda de cima para baixo, é ordem ilegítima. Ela é ilegítima porque, antes de mais nada, ilegítima é sua origem. Somente é legítima a ordem que nasce, que tem raízes, que brota da própria vida, no seio do Povo.

Nego peremptoriamente a possibilidade de coexistência, num mesmo País, de duas ordens constitucionais legítimas, embora diferentes uma da outra. Se uma ordem é legítima, por ser obra da Assembleia Nacional Popular do Povo, nenhuma outra ordem, provinda de outra autoridade, pode ser legítima.

Afirmo que a outra lei não tem o condão de transformar uma Ditadura numa Democracia, um Estado de Fato num Estado de Direito.
Papa Sufre Fernando Quadé.

Jahu/SP, 25 de Abril de 2016

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